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O PECADO ORIGINAL, O PURGATÓRIO E O CARMA

IRAN RÊGO*

A palavra carma significa ação, ação como causa e como efeito, que se torna outra causa para outro efeito, e assim, sucessivamente.

No século dezenove, quase não se falava em carma no Ocidente. Daí que Kardec usava mais a expressão lei de causa e efeito. E lembro o dito latino “Lux Ex Oriente” (A luz vem do Oriente). Os cristãos gnósticos foram exterminados pela ala ortodoxa do cristianismo, porque eles pregavam a chegada a Deus pela gnose (conhecimento, luz), doutrina ligada às verdades filosófico-religiosas do Oriente, mas que está presente também no ensino do Nazareno: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” De fato, se Deus é sabedoria, nós como seus filhos criados à sua imagem e semelhança, temos que fazer do conhecimento uma busca constante em nossa vida, pois, é com ele que nós nos vamos tornando, cada vez mais, mais semelhantes a Deus.

Se nós somos espíritos imortais, seria estranho Deus nos ter dado apenas uma vida terrena para a nossa evolução, pois uma vida só não dá nem para começarmos a nossa evolução, em busca da sabedoria e da perfeição semelhantes às de Deus. E, se Deus é a Inteligência Suprema, que é uma das grandes verdades que nos ensina a Doutrina dos Espíritos, por que Ele nos criaria imortais, mas como que amarrados, nos obrigando a permanecermos no erro pelas eternidades afora? À proporção que as pessoas vão evoluindo em seus conhecimentos, elas vão acatando a reencarnação, naturalmente. Um exemplo: na década de 1940, apenas 2 % da população brasileira a aceitava. Hoje, são cerca de 90 %. E ela já é crença de quase três quartos da população mundial, independente de religião. É interessante lembrarmos aqui que ela tem o respaldo de vários segmentos da ciência e que ela tem tirado muitas pessoas do materialismo. Os líderes religiosos rejeitam-na, porque eles pregam que, para o fiel ganhar o céu, ele tem que passar por eles. É fácil, pois, entender a sua reação pertinaz contrária à reencarnação, já que eles não são inteligentes e sabem que ela desclassifica, em parte, as suas ações profissionais.

Se houvesse só uma vida terrena, sem novas chances de regeneração do espírito, seria incompreensível a misericórdia infinita de Deus! Se a reencarnação dependesse dos pais biológicos, nenhum pai, por menos bondoso que fosse, bloquearia nova vida para um filho seu, deixando-o para sempre no erro e na condenação. E até parece que é porque os teólogos que, geralmente, não têm filhos, que eles imaginaram essa ideia excêntrica atribuída por eles a Deus contra a reencarnação, a qual é uma das maiores verdades bíblicas. Negá-la é praticamente negar também a outra grande verdade de todas as religiões: a da lei de causa e efeito, pois o espírito imortal ficaria praticamente sem condições de colher os frutos da sua semeadura.

A colheita do sofrimento atribuído pelos teólogos ao pecado original é um efeito de uma causa do passado. Também o Purgatório é outro efeito de dor de causas anteriores. E, igualmente, o carma é efeito de causas passadas. E os teólogos de hoje ensinam que não se sabe onde é o Purgatório, o que nos deixa uma brecha para dizermos que ele é aqui mesmo na Terra, pois aqui se faz e aqui se repara. E o mais antigo é o carma, e que, por se ligar à reencarnação e às religiões orientais, os teólogos, em vão, tentaram anulá-lo, substituindo-o pelo pecado original e o Purgatório.

Pode-se dizer, pois, que o pecado original, o Purgatório e o carma são sinônimos!

*Médico cardiologista- espírita

Fonte: “A Face Oculta das Religiões” – José Reis Chaves.